De Leigo a Especialista em Aprendizado Profundo:| Natural Language Institute

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De Leigo a Especialista em Aprendizado Profundo:

1. Por quê?

por Victor - 30/ago/2019 #Ciência e Tecnologia

Quando li as notícias surpreendentes sobre o AlphaZero, que havia superado séculos de compreensão humana e computacional sobre o xadrez em apenas quatro horas, pensei: “Essa tecnologia tem o potencial de mudar o mundo. Irei aprendê-la.”

Pouco importava que eu estivesse trabalhando em relações internacionais; que eu me havia formado em Ciências Políticas e estava cursando Direito; que eu tinha um instituto de idiomas; que nos finais de semana eu administrava uma fazenda; que eu tinha 39 anos e não possuía formação em matemática ou ciência da computação.

Na verdade, acho que já vinha buscando uma desculpa para dar uma reviravolta nas minhas atividades profissionais e acadêmicas. De tempos em tempos, refletia que, na minha infância, eu tinha sido igualmente inclinado aos números e à linguagem, mas devido à influência familiar, eu nunca tinha considerado seriamente me aprofundar nos estudos da matemática ou das ciências exatas. Como adulto, eu passara os últimos 17 anos gerenciando projetos e pessoas, e agora me sentia atraído pela pureza e pelo poder dos números, das leis físicas e dos algoritmos. Às vezes eu comentava com os amigos: "Se eu pudesse começar tudo de novo, eu estudaria física ou matemática, porque estão na base de tudo no universo."

Outra realidade alternativa que eu nutria na minha imaginação era de ter me tornado um programador. Por alguns meses, quando eu tinha 10 anos de idade, me diverti bastante aprendendo sozinho a programar em BASIC[1] no Commodore Amiga[2] que eu havia convencido minha mãe a comprar para mim e meus irmãos. Porém, sem ninguém para me ajudar, sem a Internet e sem oportunidades concretas de levar adiante o hobby, desisti dele, assim como fiz com o xadrez que também me apaixonava naquele momento.

Posteriormente, minha experiência com programação foi escassa. Sete anos após minha breve incursão em BASIC, eu programei alguns jogos triviais nas calculadoras da Texas Instruments que foram emprestadas nas aulas de Cálculo do ensino médio. Outros sete anos depois disso, me arrisquei com um pouco de código muito superficial de Visual Basic, SQL e HTML para obter um mínimo de flexibilidade nas macros de Word, trabalhei com bancos de dados do Access e criei um site primitivo para impulsionar minha pequena empresa – The Natural Language Institute (“Natural”). Vale comentar que eu também estava atendendo ligações, limpando o chão, dando aulas de inglês, e virando noites para entregar traduções dentro do prazo e assim pagar meus empréstimos estudantis.

Depois de entregar a gerência do Natural a administradores quando ingressei no serviço público, tentei orientá-los na contratação de pessoal e de soluções de TI, mas os resultados foram consistentemente decepcionantes. Enquanto isso, as aulas on-line e aplicativos de idiomas tornaram-se cada vez mais populares e o Natural estava perdendo importantes oportunidades de crescimento. Refleti: para conseguir fornecer uma orientação de maior qualidade para os gerentes, de modo que eles pudessem encontrar um caminho para avançar na área de tecnologia, talvez a única maneira fosse eu mesmo mergulhar pessoalmente nesse campo de conhecimento. Mas como?

Na minha função pública, como secretário de relações internacionais, minha secretaria sofrera restrições de pessoal e percebi que o problema afetaria cada vez mais todos os setores do tribunal de contas onde trabalho. A Emenda Constitucional nº 95, promulgada no Brasil no final de 2016 com a finalidade de controlar os gastos públicos, teve o efeito imediato de restringir severamente a contratação de novos funcionários públicos, o que significou que o grande número de auditores que estava se aposentando não poderia ser substituído por meio de novos concursos. No entanto, a sociedade civil, indignada com escândalos de corrupção recentemente expostos no País, esperava, com razão, que o Tribunal fizesse mais para garantir que os recursos federais fossem gastos de maneira ética e eficiente. Como poderíamos fazer muito mais com um quadro cada vez menor? Como poderia eu contribuir para o enfrentamento desse tremendo desafio?

As notícias sobre o AlphaZero vieram como um relâmpago reluzindo o caminho que eu já avistava há algum tempo. Avanços na inteligência artificial estavam começando a mudar o mundo; eles poderiam ajudar a solucionar o problema de produtividade tão urgente no serviço público; poderiam também tornar o aprendizado de idiomas cada vez mais acessível, eficiente e personalizado.

Era isso! Eu mesmo aprenderia a programar. Essa habilidade me forneceria um novo e poderoso meio para ajudar o Tribunal a enfrentar seus desafios mais prementes. Ao mesmo tempo, me permitiria orientar com sucesso a nova gerente do Natural na contratação de programadores profissionais e no desenvolvimento de aplicativos de software. Finalmente, me permitiria compreender e até mesmo ajudar a desenvolver aplicações de inteligência artificial que poderiam trazer um tremendo impacto positivo.

O AlphaZero havia lançado mão de redes neurais em um modelo de aprendizado profundo para dominar o xadrez, e assim eu entendi que o aprendizado profundo, ou deep learning, estaria na vanguarda dos avanços tecnológicos transformacionais. Estava decidido: eu percorreria um caminho de leigo total até especialista em aprendizado profundo. A única questão era como, mas isso será tema das minhas próximas publicações.



[1] Uma linguagem de programação de uso geral, frequentemente usada por iniciantes e amadores, especialmente até os anos 80.

[2] Uma marca popular de computador pessoal no final dos anos 80 e início dos anos 90.


Essa publicação é a primeira da série De leigo a especialista em aprendizado profundo.

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